terça-feira, 15 de novembro de 2011

Das vantagens de ser bobo



"O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.


O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.


Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.


Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"


Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!


Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.


O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.


Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!


Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo."

sábado, 12 de novembro de 2011

O carteiro e o poeta!

Assistindo ao filme chamado: O carteiro e o poeta; me senti muito tocada em vários momentos, dentre eles acabei pensando e entendendo o que já compreendia há algum tempo, mas não sabia dar nomes... vejam?!
A vida e tudo à nossa volta está repleto de poesia como na Ilha em que por um tempo o grande poeta Pablo de Neruda passou (de acordo com o filme)... em um dos belos diálogos entre o simples carteiro e o grande poeta, Neruda o perguntou: O que há de belo na sua Ilha, lugar onde nasceu?!
No primeiro momento ele respondeu prontamente que era a sua bela amada Beatriz e só depois de ter aprendido o que é a poesia com o passar dos anos, "meu" humilde poeta/carteiro passou a compreender que a beleza da sua Ilha estava sim na sua amada, mas também em muitos outros pontos enumerados por ele, vejamos:
1) Ondas de Cala di Soutto, as pequenas;
2) Ondas, as grandes;
3) Ventos nos penhascos;
4) Ventos entre arbustos;
5) Redes tristes de meu pai (lindo isso);
6) Sino da Igreja de Nossa Senhora das Dores com o padre;
7) Lindo! É o céu estrelado sobre a Ilha;
9) Quando ele ouviu as batidas do coração do Pablito (seu filhinho que estava para nascer)...
Assim fez o "meu" humilde poeta/carteiro ou carteiro/poeta, acho que agora mais poeta que carteiro; percebeu quanta beleza havia em sua volta e se tornou um grande poeta da vida e seu cotidiano, esgotou-se no amor pela vida e suas maravilhas entre luzes e sombras, entre traços mais grosseiros e delicados; entre suavidade e amargura, enfim, entre a imensidão do mar com suas ondas grandes e pequenas e a imensidão da areia quente da praia... esgotou-se, aprendeu a viver!
A poesia minha gente, deixa-nos envolvidos do mais nobre e valoroso sentimento do mundo: o Amor e o amor de gratuidade! Àquele que abarca o nada e o tudo, àquele que a gente percebe nas coisas mais humildes e de beleza rara, as vezes até ditas  como feia, depende do olhar que vê, porque o amor está escondido, como o tesouro precioso da parábola que Jesus contou, o amor que salva e dà vida à alma...
Quem puder, veja o filme e até fiquei pensando nessa minha Ilhota aqui nas Minas Gerais, tão cheia de gente e culturas diferentes em que de vez em quando, como por estes dias, encontramos o belo quadro da lua cheia linda sobre a lagoa da universidade... e a sua Ilha?!
Vejamos com os olhos de poetas, aí sim, descobriremos o sentido da vida que vai muito além da rapidez das coisas, já diziam os poetas, os profetas, já dizia o próprio Deus que se fez homem: a vida (o Reino dos Céus) é mais que a comida e a bebida, é justiça, paz e alegria (Rom 14,17)
Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.
Romanos 14:17
Obrigada Pe. Marcelo Apolônio e Renato Luís!

Ps: Deixo a música do filme que só de ouvir, descansa a gente...

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Pororoca: um passeio nos braços de Deus

   Naquela manhã, o tempo não estava como da outra vez. Havia nuvens no céu. Não conseguia identificar o vento. Não era nordeste e também não era vento sul. Parecia sudoeste, sei lá. Eram 5h da manhã e os meninos já estavam acordados. Para os que ainda dormiam, bastou uma pequena aproximação para se ouvir:
   - Está na hora, tio?
   Em pouco tempo, eu, meu filho, meu cunhado, nossos sobrinhos e ainda o namorado da nossa sobrinha estávamos preparados. Material de pesca, refrigerantes, sanduíches e tudo o mais prontos. Não demorou muito e já se ouvia dizer entre eles:
  - Por que não vamos logo embora?
  Partimos. Já próximos ao porto, avistamos o nosso barco. O pescador dizia:
  - Temos que sair logo..., vocês se atrasaram desta vez!
   Em um instante, tudo estava arrumado! Perguntei ao pescador como deveria estar o mar naquele dia e se iríamos conseguir pegar muitos peixes como da outra vez. Enquanto ele falava, recordei por alguns instantes a última pescaria... O céu não tinha uma nuvem..., o mar parecia uma piscina..., os peixes pareciam que não se alimentavam há dias.... Chegamos a pular no mar para brincar!... No mar, não! Em alto mar! A muitos quilômetros da costa! ... Inesquecível!!!
   Ele ainda falava, quando percebi que dizia que o mar estava um pouco mais agitado, e que seria mais difícil entrar.
   Zarpamos. Quando chegamos perto da foz, logo percebemos que havia muitas ondas no mar e que elas entravam no rio. Eram pororocas!!
   O pescador parou o barco, amarrou as caixas que havia sobre o convés, disse para que todos ficassem na parte de trás do barco e que se segurassem no mastro. Pediu para que os menores ficassem perto de nós e falou que devido à pororoca ele teria mais trabalho para entrar no mar.
   Olhei para o meu cunhado. Ele me disse baixinho:
   - Ele já pesca há muitos anos, tem experiência!
   Confiamos. O pescador afirmou:
   - Precisamos entrar no mar no momento certo, colocar o barco entre duas ondas e sair para o lado. Dando tudo certo, só deveremos passar por uma onda. O barco deve estar de frente para a onda, assim ela passará por cima de nós e logo depois estaremos no mar.
   Além de ter acontecido tudo o que ele havia nos dito, uma outra onda nos pegou um pouco de lado, bem no final, como lembrou meu filho, quando recordávamos o passeio. Que bom!!
   Estávamos todos molhados! Uma boa parte da onda havia passado por cima de nós. Todo o material que havia sido amarrado estava lá. As crianças estavam felizes por tanta emoção! Nossos corações batiam como nunca! Estávamos indo para outra pescaria em alto mar!!!
   É então que eu te pergunto, meu irmão:
   Quantas vezes você já confiou a sua vida a um pescador? A um motorista que conduzia à noite o ônibus onde você dormia? A pessoas que conduziam os outros carros que vinham na mão contrária em ruas e estradas?
   Quantas vezes você passou por um risco ainda maior que este, hein?
   Mas Deus não cuidou de você? Deus não está sempre cuidando de nós todos?
   Quantas vezes estamos diante de problemas, desafios onde temos que decidir se continuamos ou não?       Temos medo! Há riscos! Há uma pororoca ... Precisamos confiar em alguém!
   Coloque a sua vida nas mãos de Deus! Confie Nele! Se abandone nos braços d’Ele!
   Reze, medite, peça a Deus que lhe mostre o melhor caminho. Ele sempre cuidou de você. Ele não vai abandoná-lo agora.
   Depois da pororoca, existe sim um mar muito lindo! 


João e Marta
Fraternidade Pequena Via - Campos/RJ
15 de outubro de 2005
Amigos queridos!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Deus gosta de arte!




Atribuído ao rei Davi, no Antigo Testamento da Bíblia Sagrada, encontramos belíssimos salmos compostos para enaltecer, reconhecer e suplicar ao Senhor Deus inventor de todas as coisas. Dentre estes versos bonitos, destaco o salmo 138, com suas palavras inquietantes ao pensarmos em Deus como aquele que nos teceu e tece de maneira tão admirável no útero materno: “Senhor, vós me percrustais e me conheceis. Sabeis tudo de mim, quando me sento ou me levanto.” Sal 138, 1.
            Quão belas e admiráveis são as obras do Senhor, deleite para alma e por isso mesmo, dignas de contemplação e respeito. É bem isto, para nós que acreditamos que as mãos que nos fizeram foram as mãos do divino Autor, podemos também colocar a lente de santa Teresinha, ou seja, somos nós o jardim do Senhor e nele está contida flores de todos os tipos,  lá ou aqui estamos eu e você!
            Flores, pinturas, artesanatos, melodias, poemas, salmos etc. Infinidade de conceitos que são designados como arte e a matéria prima para fazê-las muitas vezes são atribuídas às  mãos do grande Autor, já diria Teresinha: “somos o jardim do Criador”. Deus é um artista e como tal, a gente não precisa se enganar: Ele gosta de arte!!!
            “Fostes vós que plasmastes as entranhas de meu corpo, vós me tecestes no seio de minha mãe” Sal 138, 13. Não há palavras que expressem quão artista é Deus, o quanto ele gosta de arte e de acordo com a fé professada, não há dúvida de que ele também quer que sejamos seus imitadores, ou seja, aqueles que também são criadores, herdamos tal capacidade e a teologia nos ensina que somos com Deus co-criadores.
            Infelizmente vemos um mundo que utiliza tal capacidade para a destruição, em muitos casos não se colore mais o mundo, assim como não se assiste cotidianamente na mídia o colorido que as pessoas desenham umas nas outras, ao contrário, o cheiro de pólvora, álcool, queimadas, além dos hematomas pelos corpos e porque não dizer dos hematomas nas almas... é assim que nós seres humanos, co-criadores temos feito com o dom mais profundo e de beleza inigualável recebido pelo grande Autor que, por sua vez,  nos criou para sermos junto com ele autores da vida na sua mais variada forma de existência.
            Muitas vezes somos como aquelas crianças birrentas que além da falta de desejo e empenho para criar e recriar seus próprios brinquedos, ainda quebram àqueles que tão facilmente foram comprados pela comodidade de termos tudo tão mais acessível em nossas nas mãos.
            Coração que se esqueceu de olhar um pouco mais para o céu e assim como Davi, o rei, salmodiar: “Sede bendito por me haverdes feito de modo tão maravilhoso. Pelas vossas mãos tão extraordinárias, conheceis até o fundo a minha alma” Sal 138, 14. 
Não há dúvida de que o ser humano é capaz de belas criações e soluções, quantas não são as Instituições, religiosas ou não, que estão por aí construindo a paz, realizações concretas da mão humana que entende a arte também como a ação na própria vida, em obras.
Bons artistas são aqueles que não escondem o que há de melhor no coração e muitas vezes esse melhor sai após a vivência de uma dor profunda, a dor é também um meio eficaz para a criação.
Benditos são aqueles que se entenderam artistas, todos somos e não precisamos duvidar, pois se Deus é artista, nos fez para viver como tal, artesãos a pleno vapor, precisamos lançar mão das nossas ferramentas para começar ou continuar a trabalhar, e se juntarmos nossas ferramentas, quão belo e perfumado não ficará o ambiente a nossa volta, nesse imenso jardim que é o mundo?!
Mãos à obra meu artista, há uma pincelada nesse mundo que só você pode dar, não deixe que outros façam por você, o dom é seu, vamos juntos, o caminho se faz caminhando!

Flaviane Ferreira
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Soneto de fidelidade

Vinicius de Moraes

 

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Debaixo da tua figueira

No Evangelho de São João há a descrição de forma muito interessante do encontro de Jesus com os primeiros discípulos, o que pareceu bastante ocasional, pois Jesus estava passando (João 1, 36).
É possível entender que tudo o que para nós é simplesmente ocasional, para Deus não, há um proveito e uma intenção em todos os momentos de nossas vidas, foi assim com os discípulos pelo que conhecemos da Escritura e acreditamos que acontece da mesma forma até os dias de hoje.
Jesus passava e ia convidando àqueles que ele queria como explica a Palavra. No Evangelho de São João há um diálogo profundo entre Jesus e Natanael que esclarece isso, pois, apesar de Filipe testemunhar que havia encontrado àquele que Moisés havia dito na lei, o messias, filho de José de Nazaré; Natanael não se sentiu empolgado e mais ainda, duvidou de que da cidade de Nazaré pudesse sair coisa boa (Jo 1, 46).
Ao ver Natanael, Jesus mostra a ele primeiramente que conhecia o seu caráter ao chama-lo de verdadeiro israelita, no qual não há falsidade (Jo, 1,47), ele por sua vez questiona Jesus com certo estranhamento: “Donde me conheces?” e Jesus responde o que Natanael não esperava e nós também por muitas vezes não esperamos ou esquecemos: “Antes que Felipe te chamasse, eu te vi quando estavas debaixo da figueira.” (Jo, 1, 48).
Lendo um pequeno texto sobre esta passagem, o autor explica que estar embaixo daquela figueira poderia representar as coisas pessoais que Natanael estava vivenciando que somente ele e Deus sabiam – e continua – a figueira que parecia ser um lugar de solidão apenas de Natanael, era também lugar de Deus que o havia visto a pensar na vida e nas decisões que precisava tomar.
O que podemos pensar sobre tamanha sabedoria de Jesus está relacionado ao quanto Ele também confia em nós, por isso chamou Natanael que nem acreditava que dele pudesse vir algo de bom; e continua chamando até os dias de hoje, Deus confia em nós, por isso nos vê sentados embaixo da nossa figueira e assim mesmo, nos convida, ele diz: “Vem e segue-me”.
A fala de Jesus muito impressionou Natanael que logo mudou o discurso reconhecendo: “Rabi, tu és o filho de Deus, tu és o Rei de Israel” e Jesus responde: “Verás coisas maiores do que essas…” (Jo, 1,49).
As vezes não escutamos a voz do mestre e ficamos sentados tentando resolver todas as coisas, como se Ele não soubesse de todas elas, não pudesse nos auxiliar ou ensinar o melhor caminho e dessa forma, nos sentimos tão aprisionados que nos é impossível ver coisas maiores como bem disse Jesus, a gente não acredita que ele também confia em nós.
Deus nos conhece perfeitamente, sabe que pecamos, erramos, mas a todo o momento ele não deixa de confiar em nós, de dizer que nos vê e sabe que tipo de homem e mulher somos, é assim mesmo, não de outro jeito ou do jeito como gostaríamos. Ele vê e nos diz hoje, mesmo que só acreditemos porque lemos agora que ele também nos vê como viu Natanael e tantos outros, devemos crer que poderemos ver coisas maiores, basta reconhece-lo, nos apresentarmos e segui-lo pelo caminho.
Esse diálogo profundo entre Jesus e Natanael mostra a presença de alguém que o conhecia quando estava isolado, pensativo debaixo de sua figueira. Pela fé que temos podemos pensar que Jesus também dialoga conosco o tempo todo, dizendo para que possamos confiar nele e não esquecer que Ele também confia em nós, pois nos vê sempre debaixo da nossa figueira e que se nós crermos veremos coisas ainda maiores.
Repito: “Ele nos vê, ele confia em nós!”

Flaviane Ferreira

sábado, 3 de setembro de 2011

Rabisco ou desenho?


Recentemente lembrei-me de uma explicação que dei às professoras da Educação Infantil lá na escola: falamos sobre o colorido e o rabisco... Expliquei a importância de sempre direcionarmos as crianças para que façam o colorido apenas em uma posição. Ou seja, se elas começarem a colorir com o lápis em pé, devem continuar até o fim na mesma posição. Do mesmo modo, se começarem a colorir com o lápis ou giz de cera deitado, devem conservar essa posição até o fim e as professoras precisam incentivar até que terminem o desenho.
 Isso significa que as crianças começam a organizar seu pensamento e seu espaço muito mais no seu interior que no exterior. Elas vão aprendendo que precisam organizar suas idéias, até mesmo para fazer um simples desenho. Os pensamentos mais abstratos partem desses pequenos aprendizados.
Conto isso para dizer que o mesmo acontece conosco em outro sentido: ou damos continuidade ao colorido de nossa vida, ou rabiscamos hora aqui, hora ali e, ao final, como disseram meus meninos: "tá bonito não, tá tudo rabiscado..." Profundo isso!
Não é raro observar que aqueles que têm certa dificuldade, sobretudo emocional, no momento em que fazem seu desenho costumam rabiscar por cima do mesmo, tampando todo o trabalho, não sobrando nada, a não ser um emaranhado de cores. Isso nos permite perceber o coraçãozinho da criança, se está sofrido ou sufocado.
Não duvidemos, há muitas crianças se perdendo num emaranhado de cores e rabiscos, além das que nem expressão colocam no papel, ou riscam traços leves que nem dá para identificar o que quiseram ou se quiseram mostrar alguma coisa. Tais situações precisam ser avaliadas com cuidado e zelo por todos nós adultos.
Agora pensemos: será que esta situação se restringe ao mundo dos pequenos? Será que a gente também não rabisca pela vida afora? Será que não estamos rabiscando quando trabalhamos, quando cuidamos dos nossos afazeres ou das pessoas queridas que convivem conosco? Temos desenhado ou rabiscado?
Não conheço as respostas, estou a caminho, mas é necessário que, hoje e todos os dias em que estivermos pintando por essa terra, sejamos capazes de, como adultos já mais organizados interiormente, escolher melhor as cores, o movimento que fazemos e, principalmente, dar continuidade ao que começamos. Nossa vida precisa ser contínua porque não fomos feito de rabiscos. Ao contrário, Deus é preciso em sua criação! O texto de Gênesis 1 descreve o ato criador, simbologia bonita que traduz quão magnífico artista é o grande Autor. Também está escrito no Salmo 138,13b: "vós me tecestes no seio de minha mãe". Gênesis 2,7 diz ainda que fomos formados do barro da terra e Deus inspirou-nos nas narinas um sopro de vida. Lembrei-me que fazemos muitos objetos com as crianças a partir da argila.
O desafio está lançado, sempre é hora de desenhar. Se a gente só escreve, a vida fica muito séria e formal. As cores estão aí: são os bons sentimentos que carregamos, nossos dons, nossas mãos e pés para colorir esse mundo de meu Deus. O barro de que fomos feito é do mais puro. Unidos ao Criador, somos co-criadores, ou seja, criamos por causa dele. Isso nos impulsiona a fazer arte. Sejamos artistas, mas o nosso palco é a vida concreta. Na TV tudo acaba rápido. Na vida a gente deixa marcas por onde passa, marcas do eterno!


 



Flaviane Ferreira

domingo, 28 de agosto de 2011

Deus fez a gente para fazer as coisas...

"Deus fez a gente para fazer as coisas uai..."  essas foram palavras dos meus sobrinhos hoje  na hora do almoço, sobre a questão de Deus ter criado o mundo... " e a gente faz as coisas porque Deus fez a gente para isso, inventar as coisas também..." estávamos conversando sobre como é interessante alguém ter inventado as coisas...
Fecho então com outra frase de Sto Agostinho que entre as linhas de seus escritos, está nos orientando para lermos e porque não dizer, também escrevermos este mundo com a nossa vida: 
"O mundo é um livro, e quem fica sentado em casa lê somente uma página."
 
 
 

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O mundo além das palavras!

Ao Padre Marcelo Apolônio e a todos aqueles 
que se sentem roubados pela beleza da poesia...
Obrigada!



"Para mudar a paisagem, basta mudar o que sentes..."






terça-feira, 16 de agosto de 2011

O Beijo de Deus


         
           Aqueles que são cristãos católicos têm o costume de ao longo de sua vida receber os sacramentos, desde o Batismo até a Unção dos Enfermos, algo bonito na vida do religioso e católico.
            Costumo dizer que o sacramento da Eucaristia, quando recebido pela primeira de muitas outras vezes ao longo das nossas vidas, pode ser comparado a um beijo, mas um beijo diferente, o beijo de Deus!
          O beijo é algo muito sublime, tem características das mais variadas, desde o beijo apaixonado dos amantes até o beijo apaixonado entre amigos e parentes. Na Palavra de Deus, o apóstolo Paulo manda que nos saudemos com o ósculo santo 1 Cor 16:20, fazendo referência ao amor fraterno com o qual todo ser humano deveria ter o hábito de fazer como gesto de acolhida.
         Deste modo, pode-se entender que o beijo, tem caráter sacramental também, algo que tem valor sagrado, por isso chamei de beijo apaixonado, não só aquele dado pelos enamorados, mas também pelos amigos e parentes. É tão bom o aconchego de um abraço acompanhado de um beijo na face, assim como é muito bom o encontro do casal apaixonado que se derrama em um beijo de amor sincero.
           Deus também nos beija todos os dias ao abrirmos os olhos e nos depararmos com um dia inteiro para ser vivido de maneira digna e frutuosa, mas nos beija também, assim acreditamos enquanto católicos, no sacramento da Eucaristia. Essa foi a sensação que tive quando recebi pela primeira vez esse beijo, meu coração de criança ficou marcado pela ternura e presença d´Aquele que também esperava para me beijar e, portanto, tocar também minha vida inteirinha por meio de um pequenino pedaço de pão.
         As vezes até acho que se tivéssemos o hábito de nos deixar beijar em primeiro lugar pela graça de Deus que se derrama todo dia sobre bons e maus Pr 15:3, o mundo poderia ter um ar mais apaixonado e de paz, tudo poderia ter um quê de flores do campo, enaltecidas pela fragrância divina e perpassada pela nossa natureza humana, não é atoa que São Paulo orientou que nos saudássemos com o ósculo santo.
        Jesus também disse deste mesmo ósculo e até mesmo da dureza dos nossos corações quando fez referência à mulher pecadora que numa postura bem na contramão daqueles com os quais Jesus fazia refeição, desde o momento em que entrara no local onde estavam ao regalar de uma saborosa comida e em uma mesa cheia de autoridades, ela não cessava de beijar os seus pés Lc 7,45, diferentemente daqueles que ali estavam, nem o tinham saudado com o ósculo santo quando ele chegou.
         Por outro lado, esse mesmo ósculo santo pode também ter o sabor de traição, assim também Jesus vivenciou no tempo em que esteve entre nós, quem não se lembra desta frase: “E Jesus lhe disse: Judas, com um beijo trais o Filho do homem?” Lc 22:27. A diferença em nossa vida está na maneira como compreendemos todas as coisas ou mesmo no olhar que colocamos sobre elas, um beijo pode ter o sabor que quisermos, mas se de coração contrito e sincero desejarmos que nossa vida seja como a fragrância leve e delicada das flores do campo, então, ao saborear a presença d´Aquele que mora em nós, procuraremos ter atitudes que nos faça ser expressão dele nessa terra, distribuindo ósculo santo como nos orientou o apóstolo.
            Hoje pode ser um dia diferente para todos nós, poderemos perceber esse beijo de Deus em uma boa lembrança, seja da nossa 1ª Eucaristia ou do leve toque de uma brisa suave, ou ainda, poderemos nos sentir tocados porque bem pertinho pode haver a presença amorosa de um amigo, parente ou da pessoa amada... deixe-se beijar, deixe-se amar!
Deus te ama!
            


Flaviane Ferreira

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

QUAL É A COR DO AMOR?
Onde reina o amor, Deus aí está!!!
 
- Qual é a cor do amor? - perguntou o elefantinho cinzento - será que é verde?
- Não sei se isso é verdade, mas a grama é verde, então talvez o amor seja azul - disse o velho carinhoso avô.
- Qual é a cor do amor? - perguntou o elefantinho cinzento - será que é azul?
O tigre se deitou e rolou de costas - não sei a resposta, meu caro amiguinho; o céu é azul... talvez o amor seja amarelo!
- Qual é a cor do amor? - perguntou o elefantinho cinzento - será que é amarelo?
O leãozinho abriu um olho, muito cansado para brincar. Bocejou e falou:
- Este sol quente é amarelo; o amor não será vermelho?
- Qual é a cor do amor? - perguntou o elefantinho cinzento - será que é vermelho?
A arara, pousada em cima de um galho, falou:
- Vermelho é das flores, o amor é brilhante... portanto, é bem simples: o amor é branco!
- Qual é a cor do amor? - perguntou o elefantinho cinzento - será que é branco?
- Não, o amor não é branco - disse a zebra - não, eu acho que... o amor é tão belo que só pode ser cor-de-rosa!
- Qual é a cor do amor? - perguntou o elefantinho cinzento - será que é rosa?
- Rosa? - gritou o flamingo - não, não pode ser. O amor deve ser laranja como o pôr-do-sol à tardezinha.
Desanimado e cansado ao fim do dia, o elefantinho cinzento falou:
- Já sei a quem perguntar, e logo pensou em sua mamãe.
Despediu-se do flamingo com suas pernas compridas e passou pela zebra na beira do rio.
O leãozinho se fora de sua pedra ao sol e o tigre saiu correndo, atrás da caça.
O elefantinho foi até a beira da água e molhou a pata. Ele disse à sua mãe:
- Será que alguém sabe? Já tentei todas as cores, da grama às flores, do céus às nuvens, e até o sol lá em cima... mas ninguém soube me dizer a cor do amor.
- Qual é a cor do amor?
- Eu lhe digo, filhote...é tão escuro como a noite, e tão brilhante como o sol; pense numa cor e ali está o amor; o amor é toda cor, é tudo, em todo lugar.
- Qual é a cor do amor? São todas as cores à nossa volta, porque nada mais importa quando você encontra o amor.
 


Ps: Meus sobrinhos disseram que é amarelo rs...

sábado, 6 de agosto de 2011

Adélia Prado!

Grande mulher, grande escritora...inspiradora!

Ensinamento


Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo. 

 

domingo, 31 de julho de 2011

Há estórias - Rubem Alves/ O medo da sementinha

Hé estória que podem ser escutadas em disquinhos ou simplesmente lidas sozinha... São estória engraçadas. Outras devem ser contadas por alguém.

Quando se anda pelo escuro do medo, é sempre importante saber que há alguém amigo por perto. Alguém está contando a estória. Nãos estou sozinho... Nem o livro que se lê e nem o disquinho que se ouve têm o poder de espantar o medo.

É preciso que se ouça a voz de um outro e que diz:
                                         - Estou aqui, meu filho...

"Consulte não a seus medos, mas a suas esperanças e sonhos. Pense não sobre suas frustrações, mas sobre seu potencial não usado. Preocupe-se não com o que você tentou e falhou, mas com aquilo que ainda é possível a você fazer", Papa João XXIII

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Gente Humilde

Gente Humilde
Composição: Garoto / Chico Buarque / Vinícius de Moraes
Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
Porque parece
Que acontece de repente
Feito um desejo de eu viver
Sem me notar
Igual a como
Quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem
Vindo de trem de algum lugar
E aí me dá
Como uma inveja dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar
São casas "tristes".
Com cadeiras na calçada
E na fachada
Escrito em cima que é um lar
Pela varanda
Flores tristes e baldias
Como a alegria
Que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar

Renato Russo: http://www.youtube.com/watch?v=Z01sKLo2Q6I



Ouvi essa música na voz do poeta Renato Russo, sei que não é dele a letra, mas ficou tão boa a interpretação que tocou esse meu peito de fé inconstante e por vezes desanimado por pensar tanto em si...

Lembrei-me de uns bairros de periferia aqui na minha cidade: Nova Viçosa e nossas idas e vindas de ônibus (de vez em quando); lembrei-me também do Carlos Dias (Rebenta Rabicho); Cajuri; Duas Barras (já trabalhei lá) etc... aí me deu uma inveja dessa gente que vai em frente, sem nem ter com quem contar.

Me deu também um despeito por sentir que não tenho muito como lutar/ajudar, tanta coisa acontecendo errada debaixo do meu nariz , tanta gente perdendo sua dignidade por causa das drogas, da criminalidade, exploração sexual; miséria; depressão... e eu muito bem, vindo de trem.

Então me deu um aperto no peito, talvez um pouco parecido com aquele que Jesus sentiu e sente pelo seu povo tão judiado ou se judiando tanto... até me lembrei de um  filme que assistimos na semana de catequese (O santo que não acreditava em Deus)... o personagem do Lima Duarte como Deus dizendo que não havia explicação: “eu criei tudo e vocês querem que eu resolva tudo também, nem ouço mais oração para que o time predileto ganhe...” quanta contradição nós trazemos...


Pensei um pouquinho na minha gente e não sei se estou correta...mas se não podemos fazer muito por essa gente brasileira, pensemos então no que santa Teresinha ensinou sobre o jardim do Criador, somos como as florzinhas miúdas que quando se juntam dão vida ao jardim, sejamos então como essas flores, não só unidas, mas principalmente, que façamos alguma coisa, nós que cremos, peçamos a Deus por essa gente humilde!

“Tem certos dias em que eu penso em minha gente, e sinto assim todo o meu peito se apertar.”

Flaviane Ferreira

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Seguir com determinação

Pessoas com um ideal são aquelas que estão sempre caminhando em alguma direção,
definiram uma meta e seguem com determinação... isto nos faz lembrar o dinamismo de uma vida que enxerga sua missão e por isso mesmo, são pessoas que vivem intensamente cada minuto, adentram pelo caminho escolhido e mesmo com os atropelos, não desistem de continuar, têm porque viver e amar.
O amor se desdobra em muitas faces, tem a mesma essência, mas se concretiza de várias maneiras, neste sentido quero me ater ao ideal contido no coração, seja esse um ideal político, religioso ou social... devemos ter porque viver, porque lutar e até mesmo porque sofrer.
Muitos diriam que esse discurso é ultrapassado, será? Talvez! Porém, lembremos de algumas consquistas como o fim da didatura militar e a tão sonhada democracia se tornando realidade, é bem verdade, graças a Deus vivemos uma democracia! Mesmo com as dificuldades concretas em um país democrático, temos um sinal claro de que aqueles que tanto lutaram por este ideal conseguiram uma importante vitória.
O que aconteceu com essa geração tão ferrenha e cheia de vontades, algo se perdeu em meio a essa conquista, viramos pessoas de vontade fraca, sem determinação e portanto, sem um ideal para viver?!
A grande maioria da população quase não se expressa mais, trabalha-se apenas pelo dinheiro no final do mês, estuda-se mais ou menos, ama-se do mesmo modo, enfim, vive-se de qualquer maneira, é a nossa geração coca-cola, já dizia o bom poeta Renato Russo.
Na palavra de Deus encontramos muitas passagens sobre o povo, isto é, sobre cada um de nós também, entre tantos, encontramos narrativas sobre gerações dispersas, perdidas, que viviam segundo seus próprios pensamentos. Ao mesmo tempo, em meio a toda confusão, sempre se encontra uma pessoa que tinha temor a Deus, como foi o caso da alusão a figura de Noé (Gên 6,8), naquele coração houve uma terra fértil para que Deus pudesse plantar, um coração com determinação para continuar, com um ideal, assim como tantos outros.
Porque não lembrar também de Paulo de Társis,homem com têmpera, de perseguidor a perseverante e desbravador da fé cristã, empenhou o escudo da fé e por ela percorreu milhares de quilômetros, pois tinha em seu coração a determinação que o mantinha forte lutando pelo seu ideal, fazer Cristo conhecido.
Deus não é um ideal, ao contrário, ele mesmo direciona o coração da gente para caminhar, ele nos inspira o tempo todo e nos fez para uma missão, porque não dizer, para um ideal.
Hoje então, com essa reflexão, somos convidados a também embraçar um escudo, olharmos dentro do peito e perceber qual é o grito concreto contido que não temos ouvido? Temos vivido de qualquer maneira e aceitamos qualquer coisa? Como você tem andado? Qual é o seu ideal, sua missão? Por que você vive?
Assim como na Palavra, podemos lembrar também dos acontecimentos de nossa história, encontramos tantas pessoas que empreenderam grandes lutas, conseguiram vitórias, vivenciaram derrotas, enfim, vida acontecendo, pois não viemos para passar de qualquer modo, não somos qualquer coisa, somos filhos amados de Deus, eleitos, provados e chamados, temos em nós força para caminhar, amar e seguir adiante.

domingo, 10 de julho de 2011

Um chuchu!


“Você já viu?" - primeira coisa que escutei ao entrar na casa, contemplando um sorriso bastante largo como de uma criança - "Veja como cresceu, olha lá da janela, ta bonito não é? Fui eu quem plantei, vamos lá para você ver como está linda a rama de chuchu...” e não se contentou em mostrar, dois minutos depois continua: “toma, leva este para você e plante.” E sai toda contente como quem tivesse dado um tesouro.

Isto aconteceu em Barbacena-MG numa casa terapêutica da Arquidiocese de Mariana, administrada pela Paróquia Bom Pastor, vale a pena conhecer esse trabalho, bonito!

São várias as casas, feminina e masculina, um lugar onde se encontram mulheres e homens reconstruindo a vida, reconstruindo o coração e aprendendo a receber amor e atenção após longos anos de sofrimentos em hospitais psiquiátricos, sem a menor condição de um tratamento digno e que desse possibilidades para um melhor desenvolvimento afetivo, psicológico, social. Estão aprendendo também a doar daquilo que é seu, dentro de suas capacidades. Tenho certeza que um ensopado desse chuchu, deve ser comparado ao prato mais caro e até mesmo gostoso que possamos experimentar.

Até me lembrei da passagem dos Atos dos Apóstolos sobre a cura do aleijado, quando Pedro afirma ao paralítico: “Olha para nós!” Ele os olhava atentamente, esperando receber deles alguma coisa. Mas Pedro lhes disse: “Nem ouro, nem prata possuo. O que tenho, porém, isto te dou...”Atos 3,4-5. No caso dela, poderíamos dizer: “Um chuchu!”

Parece exagero exaltar tanto um presente como este, mas essa cena me fez lembrar da conversa entre a raposa e o príncipe, ela afirmou que toda vez que visse um campo de trigo lembraria do seu amigo, pois o seu cabelo era da mesma cor. Toda vez que eu ver um chuchu vou me lembrar de quantas maneiras a beleza se aproxima de mim, pois só se pode ver bem, quem enxerga com o coração, já dizia a raposa - conversa profunda a desses dois.

O artista ama a pedra sem forma por causa da Pietá que mora adormecida dentro dela, assim também afirmou nosso famoso escritor Rubem Alves e ele continua: “o deserto é belo porque, em algum lugar, ele esconde um jardim. Somos belos porque dentro de nós há um jardim que, vez por outra, se deixa ver através de nossos gestos.”

Consegui ver um bonito jardim ao receber este chuchu e não há como esquecer a alegria daquela mulher simples, aparentemente sem expressões claras e objetivas como estamos acostumados, algo tocou e modificou o meu coração ao contemplá-la.

Nem ouro, nem prata eu tenho, mas o que tenho eu te dou... um chuchu!


Flaviane

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Tráfego




"Ei nós, que viemos
De outras terras, de outro mar..."
Já dizia o poeta popular.
A vida é um tráfego...
A estrada um nicho.
Os nichos se completam
nas partes de cada um.
Cada um, uma história.
Cada história, um ritmo.
Os ritmos embalam o Tráfego da vida.
Nossa vida no embalo do Tráfego,
será sempre uma cotidiana descoberta.
Ei nóis?!
Nóis continuaremos a trafegar...


Flaviane

Gentileza - Marisa Monte!








Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
A palavra no muro
Ficou coberta de tinta
Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro
Tristeza e tinta fresca
Nós que passamos apressados
Pelas ruas da cidade
Merecemos ler as letras
E as palavras de Gentileza
Por isso eu pergunto
À você no mundo
Se é mais inteligente
O livro ou a sabedoria
O mundo é uma escola
A vida é o circo
Amor palavra que liberta
Já dizia o Profeta

terça-feira, 10 de maio de 2011

Reverênciai-vos


O que é o ser humano para não acreditar na beleza de Deus e por este motivo, na sua própria beleza e na beleza do outro?!
Certa vez eu fiz o minicurso “Homem Sacramento de Deus” em um encontro de carnaval (Seara) e me lembrei do que o palestrante da Com. Vilarégia disse, era mais ou menos assim: “Nós deveríamos nos ajoelhar diante de cada homem ou mulher, pois tamanha é a beleza da criação de Deus: o ser humano, um mistério a ser desvendado...”
Fiquei pensando no tanto que precisamos deixar Deus curar nosso olhar, principalmente a maneira como nos enxergamos e como enxergamos o outro, pois se no centro de nossa vida estivesse gravada a verdade de que o ser humano é a extrema expressão do Amor divino, não precisaríamos fazer tantas conferências na busca de respostas para questões como: “Como é possível conceber todos os minutos dos nossos dias a morte de tantas pessoas devido à fome, drogas, violência etc.? Como é possível conceber pessoas perdendo sua dignidade por causa da prostituição e tantos outros males que hoje são até mesmo socializados?
Que olhar é este o nosso que não procura enxergar e reverenciar o semelhante dentro da própria casa e por vezes dormindo na mesma cama, dividindo a vida?! Que homem pós moderno é este e que no Projeto de Deus deveria: "Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra."( Gên 1, 28) para ser expressão bonita como co-criador, dotado de inteligência e capacidade profunda de amar e até mesmo salvar?
Este mesmo homem, sacramento de Deus, vive atualmente cada minuto de sua vida pensando no dinheiro que precisa juntar, na faculdade que precisa terminar, em todas as coisas que precisa resolver, quando na verdade, deveria dominar todas elas, pois elas passam como a erva que seca e morre e nada disso é levado à presença de Deus na eternidade, a não ser o amor que foi amado.
A palavra sacramento significa, etmologicamente, algo que santifica e equivale ao vocábulo  mistério - coisa sagrada, oculta ou secreta (Formação Com. Shalom), o ser humano é um mistério, é sagrado e por isso deve ser reverenciado como tal.
São Francisco, santa Teresinha e tantas outras pessoas conhecidas ou não, vivas ou já falecidas, são sinais concretos daqueles que vivenciam este olhar através da lente do Amor, vivem uma vida sacramental, ou seja, em todas as coisas, as menores, percebem a presença de Deus e seu toque misterioso, por isso mesmo, deixam ensinamentos profundos que nos convida a enxergar a partir da luz de Cristo. Pensar nesses santos e em tantos outros, é pensar no quanto se faz urgente que cada um e toda a sociedade busque a presença amorosa de Deus para que a lente dos nossos olhos seja a do coração. Quando não se quer enxergar com o coração não é possível fazer grandes coisas, mesmo que sejam as mais simples como ensina Teresinha e Francisco.
O olhar para ser puro, precisa primeiro repousar no Olhar mais puro e terno de todos, o olhar de Deus, não há como chegar ao verão e não sentir pelo menos um pouco de calor, assim como todas as estações, portanto, não há como deixar de viver a vida de Deus, afinal de contas, ele quis e quer vive em nós também, um Deus próximo, cheio de carinho e misericórdia que nos dá liberdade todos os dias.
Ouso encontrar nas palavras de Jesus este ensinamento: “Reverenciai-vos” e ainda consigo tomar outros verbos bem no imperativo e afirmativo: amai-vos, contemplai-vos, cuidai-vos, protegei-vos e descobri-vos, pois sois Imagem e Semelhança do Pai (Gên 1, 27).
Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta (Mt 6, 26). Não valeis vós muito mais que elas pequeno rebanho do qual é conhecido até mesmo o mais profundo, “pois vós plasmastes as entranhas de meu corpo, vós me tecestes no seio de minha mãe.” (Sal 138, 13)
 Prestai atenção uns aos outros, prestai atenção ao meu povo que clama por viver a dignidade lhe conferida desde a Criação.
                Reverenciai-vos!

Flaviane

terça-feira, 3 de maio de 2011

Naquele dia!



Naquele dia chovia,

Chuva de verão!

Naquele dia chovia,

Pingos na solidão!

Naquele dia chovia,

Chovia em

meu coração!

Flaviane

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Pedras!

Pedras são pedras...

Têm formatos diferentes,

pedras são pedras!

Elas podem ser modificadas,

dependo das mãos que as tocam.

Podem trazer obra de arte!

Dependendo das mãos que as tocam,

pedras podem matar.

Pedras são alicerces,

e há pedras de onde

brota-se água!

Flaviane

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A caneta, o papel e a vida


“Ouço as palavras do vento
Me confessar” 14 Bis

Se observarmos bem o mundo ao nosso redor, veremos que há muitas coisas que trazem significados para nossa história, para o nosso coração! O mundo é cheio de palavras e expressões, sejam elas expostas pelas mãos dos homens ou pela natureza repleta de cores, cheiros e sabores.

À medida que vamos observando, também entramos nestes significados e devemos deixá-los ficarem inscritos dentro de nós... até mesmo para sermos expressão de algo mais bonito e fora da confusão do mundo de hoje, seria bom que nos misturássemos mais às cores, cheiros e sabores do mundo, de forma saudável e sem passar por cima de tudo por causa da nossa costumeira vida corrida, somos feito de carne e ossos, não somos máquinas.

Ao expressarmos o significado das coisas, seja na escrita ou na fala, não devemos procurar apenas pela beleza das palavras ao se fazer um poema por exemplo, ou então na busca por uma escrita totalmente correta ou ainda o uso de palavras difíceis, isto é muito importante sim, mas um texto se torna fecundo quando está em harmonia com aquilo que somos e que deixamos ser inscrito em nossos sentidos em primeiro lugar. Como bem expressou o evangelista, as palavras devem expressar o nosso coração, “a boca fala daquilo que o coração está cheio” Mt 15,18.
Esta frase da música com a qual comecei o texto mostra que o compositor soube expressar com bela poesia como aprendeu não apenas a ouvir as palavras confessadas pelo vento, mas também os pequenos murmúrios, estes são quase imperceptíveis. Num mundo agitado como o nosso, fica difícil ouvir o vento, que dirá a brisa. Ele ainda expressa: “O ar da noite - sopro de vida, me lembrando o que eu esqueço existir.” – de fato, a vida passa e a gente esquece tanta coisa o tempo todo, fica muito estranho ouvir coisas tão delicadas e simples como a letra dessa música.

As vezes penso que a gente se esquece porque também não procuramos prestar a devida atenção às coisas a nossa volta, somos tão distraídos que o tempo corre e a gente fica vendo tudo passar, já disse Agostinho o santo “temo a graça que passa e não volta mais” e posso completar com outra música do mesmo grupo: “viva cada instante, dia após dia, após dia” Uma velha canção Rock and roll – 14 bis. Posso completar ainda mais com Teresinha a santa de Lisieux, querida mestra espiritual, ela exclamou: “É preciso abandonar o futuro nas mãos do Bom Deus.”

Penso também que escrever deve ser um ato de fazer memória, ou seja, sempre para nos lembrar! Lembrar que dentro de nós existe uma vida como uma semente plantada na terra que deve vir para produzir frutos maravilhosos, frutos com gosto de vida, cheio de energia, expressando sempre o jeito do Amor e o Amor aqui se chama Deus.

Em um mundo onde se ouve e lê poucas palavras benditas, que estas que você lê aqui sejam palavras de vida, regadas de Amor e Esperança.

“Sigo no rumo da manhã, rindo sozinho... o ar da noite – sopro de vida, me lembrando o que esqueço existir.” Pequenas coisas - 14 Bis
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 Pequenas coisas
14 Bis


Trago um pedaço da noite
Junto comigo
Bebo outro gole, outra chuva
Corro perigo

Cada instante que ouço bater
Meu coração dentro de mim

Ouço as palavras do vento
Me confessar
Que desde o início dos tempos
Busca chegar

Onde possa se transformar
Numa brisa
Para transportar e guardar

O perfume das flores
Os pequenos murmúrios
Folhas tristes do outono
E o jeito do amor

Sigo no rumo da manhã
Rindo sozinho
Dos pensamentos que tenho
Com festa e vinho
O ar da noite - sopro de vida
Me lembrando
O que eu esqueço existir