domingo, 31 de julho de 2011

Há estórias - Rubem Alves/ O medo da sementinha

Hé estória que podem ser escutadas em disquinhos ou simplesmente lidas sozinha... São estória engraçadas. Outras devem ser contadas por alguém.

Quando se anda pelo escuro do medo, é sempre importante saber que há alguém amigo por perto. Alguém está contando a estória. Nãos estou sozinho... Nem o livro que se lê e nem o disquinho que se ouve têm o poder de espantar o medo.

É preciso que se ouça a voz de um outro e que diz:
                                         - Estou aqui, meu filho...

"Consulte não a seus medos, mas a suas esperanças e sonhos. Pense não sobre suas frustrações, mas sobre seu potencial não usado. Preocupe-se não com o que você tentou e falhou, mas com aquilo que ainda é possível a você fazer", Papa João XXIII

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Gente Humilde

Gente Humilde
Composição: Garoto / Chico Buarque / Vinícius de Moraes
Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
Porque parece
Que acontece de repente
Feito um desejo de eu viver
Sem me notar
Igual a como
Quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem
Vindo de trem de algum lugar
E aí me dá
Como uma inveja dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar
São casas "tristes".
Com cadeiras na calçada
E na fachada
Escrito em cima que é um lar
Pela varanda
Flores tristes e baldias
Como a alegria
Que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar

Renato Russo: http://www.youtube.com/watch?v=Z01sKLo2Q6I



Ouvi essa música na voz do poeta Renato Russo, sei que não é dele a letra, mas ficou tão boa a interpretação que tocou esse meu peito de fé inconstante e por vezes desanimado por pensar tanto em si...

Lembrei-me de uns bairros de periferia aqui na minha cidade: Nova Viçosa e nossas idas e vindas de ônibus (de vez em quando); lembrei-me também do Carlos Dias (Rebenta Rabicho); Cajuri; Duas Barras (já trabalhei lá) etc... aí me deu uma inveja dessa gente que vai em frente, sem nem ter com quem contar.

Me deu também um despeito por sentir que não tenho muito como lutar/ajudar, tanta coisa acontecendo errada debaixo do meu nariz , tanta gente perdendo sua dignidade por causa das drogas, da criminalidade, exploração sexual; miséria; depressão... e eu muito bem, vindo de trem.

Então me deu um aperto no peito, talvez um pouco parecido com aquele que Jesus sentiu e sente pelo seu povo tão judiado ou se judiando tanto... até me lembrei de um  filme que assistimos na semana de catequese (O santo que não acreditava em Deus)... o personagem do Lima Duarte como Deus dizendo que não havia explicação: “eu criei tudo e vocês querem que eu resolva tudo também, nem ouço mais oração para que o time predileto ganhe...” quanta contradição nós trazemos...


Pensei um pouquinho na minha gente e não sei se estou correta...mas se não podemos fazer muito por essa gente brasileira, pensemos então no que santa Teresinha ensinou sobre o jardim do Criador, somos como as florzinhas miúdas que quando se juntam dão vida ao jardim, sejamos então como essas flores, não só unidas, mas principalmente, que façamos alguma coisa, nós que cremos, peçamos a Deus por essa gente humilde!

“Tem certos dias em que eu penso em minha gente, e sinto assim todo o meu peito se apertar.”

Flaviane Ferreira

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Seguir com determinação

Pessoas com um ideal são aquelas que estão sempre caminhando em alguma direção,
definiram uma meta e seguem com determinação... isto nos faz lembrar o dinamismo de uma vida que enxerga sua missão e por isso mesmo, são pessoas que vivem intensamente cada minuto, adentram pelo caminho escolhido e mesmo com os atropelos, não desistem de continuar, têm porque viver e amar.
O amor se desdobra em muitas faces, tem a mesma essência, mas se concretiza de várias maneiras, neste sentido quero me ater ao ideal contido no coração, seja esse um ideal político, religioso ou social... devemos ter porque viver, porque lutar e até mesmo porque sofrer.
Muitos diriam que esse discurso é ultrapassado, será? Talvez! Porém, lembremos de algumas consquistas como o fim da didatura militar e a tão sonhada democracia se tornando realidade, é bem verdade, graças a Deus vivemos uma democracia! Mesmo com as dificuldades concretas em um país democrático, temos um sinal claro de que aqueles que tanto lutaram por este ideal conseguiram uma importante vitória.
O que aconteceu com essa geração tão ferrenha e cheia de vontades, algo se perdeu em meio a essa conquista, viramos pessoas de vontade fraca, sem determinação e portanto, sem um ideal para viver?!
A grande maioria da população quase não se expressa mais, trabalha-se apenas pelo dinheiro no final do mês, estuda-se mais ou menos, ama-se do mesmo modo, enfim, vive-se de qualquer maneira, é a nossa geração coca-cola, já dizia o bom poeta Renato Russo.
Na palavra de Deus encontramos muitas passagens sobre o povo, isto é, sobre cada um de nós também, entre tantos, encontramos narrativas sobre gerações dispersas, perdidas, que viviam segundo seus próprios pensamentos. Ao mesmo tempo, em meio a toda confusão, sempre se encontra uma pessoa que tinha temor a Deus, como foi o caso da alusão a figura de Noé (Gên 6,8), naquele coração houve uma terra fértil para que Deus pudesse plantar, um coração com determinação para continuar, com um ideal, assim como tantos outros.
Porque não lembrar também de Paulo de Társis,homem com têmpera, de perseguidor a perseverante e desbravador da fé cristã, empenhou o escudo da fé e por ela percorreu milhares de quilômetros, pois tinha em seu coração a determinação que o mantinha forte lutando pelo seu ideal, fazer Cristo conhecido.
Deus não é um ideal, ao contrário, ele mesmo direciona o coração da gente para caminhar, ele nos inspira o tempo todo e nos fez para uma missão, porque não dizer, para um ideal.
Hoje então, com essa reflexão, somos convidados a também embraçar um escudo, olharmos dentro do peito e perceber qual é o grito concreto contido que não temos ouvido? Temos vivido de qualquer maneira e aceitamos qualquer coisa? Como você tem andado? Qual é o seu ideal, sua missão? Por que você vive?
Assim como na Palavra, podemos lembrar também dos acontecimentos de nossa história, encontramos tantas pessoas que empreenderam grandes lutas, conseguiram vitórias, vivenciaram derrotas, enfim, vida acontecendo, pois não viemos para passar de qualquer modo, não somos qualquer coisa, somos filhos amados de Deus, eleitos, provados e chamados, temos em nós força para caminhar, amar e seguir adiante.

domingo, 10 de julho de 2011

Um chuchu!


“Você já viu?" - primeira coisa que escutei ao entrar na casa, contemplando um sorriso bastante largo como de uma criança - "Veja como cresceu, olha lá da janela, ta bonito não é? Fui eu quem plantei, vamos lá para você ver como está linda a rama de chuchu...” e não se contentou em mostrar, dois minutos depois continua: “toma, leva este para você e plante.” E sai toda contente como quem tivesse dado um tesouro.

Isto aconteceu em Barbacena-MG numa casa terapêutica da Arquidiocese de Mariana, administrada pela Paróquia Bom Pastor, vale a pena conhecer esse trabalho, bonito!

São várias as casas, feminina e masculina, um lugar onde se encontram mulheres e homens reconstruindo a vida, reconstruindo o coração e aprendendo a receber amor e atenção após longos anos de sofrimentos em hospitais psiquiátricos, sem a menor condição de um tratamento digno e que desse possibilidades para um melhor desenvolvimento afetivo, psicológico, social. Estão aprendendo também a doar daquilo que é seu, dentro de suas capacidades. Tenho certeza que um ensopado desse chuchu, deve ser comparado ao prato mais caro e até mesmo gostoso que possamos experimentar.

Até me lembrei da passagem dos Atos dos Apóstolos sobre a cura do aleijado, quando Pedro afirma ao paralítico: “Olha para nós!” Ele os olhava atentamente, esperando receber deles alguma coisa. Mas Pedro lhes disse: “Nem ouro, nem prata possuo. O que tenho, porém, isto te dou...”Atos 3,4-5. No caso dela, poderíamos dizer: “Um chuchu!”

Parece exagero exaltar tanto um presente como este, mas essa cena me fez lembrar da conversa entre a raposa e o príncipe, ela afirmou que toda vez que visse um campo de trigo lembraria do seu amigo, pois o seu cabelo era da mesma cor. Toda vez que eu ver um chuchu vou me lembrar de quantas maneiras a beleza se aproxima de mim, pois só se pode ver bem, quem enxerga com o coração, já dizia a raposa - conversa profunda a desses dois.

O artista ama a pedra sem forma por causa da Pietá que mora adormecida dentro dela, assim também afirmou nosso famoso escritor Rubem Alves e ele continua: “o deserto é belo porque, em algum lugar, ele esconde um jardim. Somos belos porque dentro de nós há um jardim que, vez por outra, se deixa ver através de nossos gestos.”

Consegui ver um bonito jardim ao receber este chuchu e não há como esquecer a alegria daquela mulher simples, aparentemente sem expressões claras e objetivas como estamos acostumados, algo tocou e modificou o meu coração ao contemplá-la.

Nem ouro, nem prata eu tenho, mas o que tenho eu te dou... um chuchu!


Flaviane

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Tráfego




"Ei nós, que viemos
De outras terras, de outro mar..."
Já dizia o poeta popular.
A vida é um tráfego...
A estrada um nicho.
Os nichos se completam
nas partes de cada um.
Cada um, uma história.
Cada história, um ritmo.
Os ritmos embalam o Tráfego da vida.
Nossa vida no embalo do Tráfego,
será sempre uma cotidiana descoberta.
Ei nóis?!
Nóis continuaremos a trafegar...


Flaviane

Gentileza - Marisa Monte!








Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
A palavra no muro
Ficou coberta de tinta
Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro
Tristeza e tinta fresca
Nós que passamos apressados
Pelas ruas da cidade
Merecemos ler as letras
E as palavras de Gentileza
Por isso eu pergunto
À você no mundo
Se é mais inteligente
O livro ou a sabedoria
O mundo é uma escola
A vida é o circo
Amor palavra que liberta
Já dizia o Profeta