quinta-feira, 25 de abril de 2013

O amor é grande!

O Amor é grande, elegante e inclinado a amar!!!


O Mundo é Grande

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

Carlos Drumond de Andrade

domingo, 21 de abril de 2013

Lya, Lya, Lya!

Essa Luft...que bacana!
"Viver, como talvez morrer, é recriar-se a cada momento. Arte e artifício, exercício e invenção no espelho posto à nossa frente ao nascermos. Algumas visões serão miragens: ilhas de algas flutuantes que nos farão afundar. Outras pendem em galhos altos demais para nossa tímida esperança. Outras ainda rebrilham, mas a gente não percebe - ou não acredita.
A vida não está aí apenas para ser suportada ou vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada.
Não é preciso realizar nada de espetacular.
Mas que o mínimo seja o máximo que a gente consguiu fazer consigo mesmo...
... - por mais que o contexto paralelo da arte expresse o profundo contraditório sentimento humano, embora dance à nossa frente e nos convoque até o último fio de lucidez, o essencial não tem nome nem forma:

é descoberta e assombro, glória ou danação de cada um.
Lya Luft - Perda e Ganhos 

 

sexta-feira, 12 de abril de 2013

A Terceira Margem do Rio








Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.

Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.

Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.

Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para. estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.

Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa.

No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao-longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava.

Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o 'dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada. Nosso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem deixar ninguém se chegar à pega ou à fala. Mesmo quando foi, não faz muito, dos homens do jornal, que trouxeram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, não venceram: nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejão, de léguas, que há, por entre juncos e mato, e só ele conhecesse, a palmos, a escuridão, daquele.

A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, só com nosso pai me achava: assunto que jogava para trás meus pensamentos. O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele agüentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo. O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no lanço da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo — de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos.

Minha irmã se casou; nossa mãe não quis festa. A gente imaginava nele, quando se comia uma comida mais gostosa; assim como, no gasalhado da noite, no desamparo dessas noites de muita chuva, fria, forte, nosso pai só com a mão e uma cabaça para ir esvaziando a canoa da água do temporal. Às vezes, algum conhecido nosso achava que eu ia ficando mais parecido com nosso pai. Mas eu sabia que ele agora virara cabeludo, barbudo, de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de sol e dos pêlos, com o aspecto de bicho, conforme quase nu, mesmo dispondo das peças de roupas que a gente de tempos em tempos fornecia.

Nem queria saber de nós; não tinha afeto? Mas, por afeto mesmo, de respeito, sempre que às vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava: — "Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim..."; o que não era o certo, exato; mas, que era mentira por verdade. Sendo que, se ele não se lembrava mais, nem queria saber da gente, por que, então, não subia ou descia o rio, para outras paragens, longe, no não-encontrável? Só ele soubesse. Mas minha irmã teve menino, ela mesma entestou que queria mostrar para ele o neto. Viemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irmã de vestido branco, que tinha sido o do casamento, ela erguia nos braços a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda-sol. A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha irmã chorou, nós todos aí choramos, abraçados.

Minha irmã se mudou, com o marido, para longe daqui. Meu irmão resolveu e se foi, para uma cidade. Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos. Nossa mãe terminou indo também, de uma vez, residir com minha irmã, ela estava envelhecida. Eu fiquei aqui, de resto. Eu nunca podia querer me casar. Eu permaneci, com as bagagens da vida. Nosso pai carecia de mim, eu sei — na vagação, no rio no ermo — sem dar razão de seu feito. Seja que, quando eu quis mesmo saber, e firme indaguei, me diz-que-disseram: que constava que nosso pai, alguma vez, tivesse revelado a explicação, ao homem que para ele aprontara a canoa. Mas, agora, esse homem já tinha morrido, ninguém soubesse, fizesse recordação, de nada mais. Só as falsas conversas, sem senso, como por ocasião, no começo, na vinda das primeiras cheias do rio, com chuvas que não estiavam, todos temeram o fim-do-mundo, diziam: que nosso pai fosse o avisado que nem Noé, que, por tanto, a canoa ele tinha antecipado; pois agora me entrelembro. Meu pai, eu não podia malsinar. E apontavam já em mim uns primeiros cabelos brancos.

Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.

Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: — "Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!..." E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.

Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.

Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.


 Guimarães Rosa
 

Texto extraído do livro "Primeiras Estórias", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1988, pág. 32, cuja compra e leitura recomendamos.

domingo, 7 de abril de 2013

A Nova Roupa do Rei

Conversam T, P, S e C, no botequinho da esquina, assistindo pela TV à cerimônia de abertura.
T: “Ele está nu.”
P: “Precisamos falar pra ele! É o Rei.”
S: “Mas, disseram que somente os inteligentes enxergam a roupa!”
T: “De forma alguma. Ele está nu! Não posso concordar com essa gente ‘inteligente’ que vê o Rei pelado e diz que ele está vestindo trajes maravilhosos!”
S: “Vais duvidar do Rei?”
C: “Como podes duvidar do Rei? Ele mesmo disse ser de ótimo gosto sua vestimenta!”
S: “Não duvides do Rei! Dirão que és um tolo, meu amigo!”
P: “Meu silêncio em nada ajudará. Mas, tudo bem. Nada direi.”

E as festividades começaram. Todos festejaram bastante. Tendo como a mais ilustre figura o Rei, nu.
No mesmo botequinho, juntamente com F e G, os amigos assistiam a um dos eventos da Festa.
P: “Vá lá… Como pode? Precisa que alguém diga ao Rei que ele está nu. Por favor.”
S: “Não… Estás louco? Os demais cidadãos rirão daquele que isto fizer. Rirão da ignorância! O Rei está vestindo um belo traje! Até já consigo vê-lo!”
G: “Antes não via, obviamente! (gargalhada) És um brincalhão, S!”
F: “Ora… Também começo a perceber a beleza de tal fazenda utilizada! Que cores! Maravilhosa costura! Que artistas fantásticos os tecelões!”
C: “Sim! Artistas admiráveis! Vejam! E olhe que festa linda!”
S: “Uma pena não podermos participar…”
F: “Onde isso? Não poder participar? Fizemos a festa! Foi na marcenaria do G que os móveis foram fabricados! Gratuitamente, óbvio…”
C: “Em favor do povo!”
F: “Mas, foi lá! Não é mesmo, G?”
G: “Claro! Vejam meus calos! Passei dias e dias na oficina! Foi um trabalho voluntário! Orgulho-me demais disso!”
S: “Está certo, G! E veja! Em suas belíssimas cadeiras estão sentadas pessoas dos mais variados reinos! Estão admirados com nossas mulheres e suas danças exóticas!”

F: “Só não entendo como podem rir tanto da vestimenta do Rei. Será que não têm bom gosto?”
T: “Acho que eles sabem que o Rei está nu.”
C: “Calado! São ignorantes, isso sim. Nosso Rei é o mais importante deste continente!”
P: “Bem que poderíamos estar junto aos convidados, curtindo a festa. Mas, já que não temos o suficiente para as entradas, assim como a grande maioria da população de nosso reino, por que não deixamos pra lá e continuamos a apreciar pela televisão tão magnífico evento?”
C: “É o melhor a ser feito!”
F: “Viu quem vai comentar sobre os acontecimentos da festa? Aquele fantástico ícone da moral e dos bons costumes de nossa nação!”
C: “Adoro ele!”
G: “Comecei a gostar mais ainda depois que mostrou pela televisão sua luta contra a obesidade. Que herói!”
S: “Quietos! Está entrando no salão o nosso palhacinho malabarista!”
C: “Olhem! Hoje está com um novo penteado! Vou amanhã mesmo, ao cabeleireiro, levar o meu filho!”
G: “Viu que ele namora aquela atriz linda?”
F: “Ela ficou muito mais linda depois que começou a namorar com ele…”
S: “Vejam! Aquele homem malvado deu um fortíssimo encostão no nosso malabarista! Que absurdo!”
P: “Se bem que nosso malabarista não está tão criativo assim…”
C: “Cale-se! O fantástico ícone está muito entusiasmado com ele! Comenta com toda honestidade possível sobre a perfeita atuação do jovem de cabelo bacana.”
G: “Entretanto, os dois são parceiros comerciais… Não sei, não.”

F: “Ali vai o Rei!”
C: “Viva!!!”
S: “Vivas ao Grande Rei!”
Os demais presentes no botequinho esboçaram sorrisos. Alguns soltaram seus doentes ‘Vivas!’. Muitas das vozes estavam cansadas. Entretanto, naquele reino, o pão, não importando seu estado, já que muitas vezes surgia nos pratos mofado, sempre era distribuído generosamente.
P: “O Rei!”
T: “Ainda pelado… que vergonha.”
S: “Vejam! Os convidados estrangeiros estão rindo muito do Rei!”
C: “Eles são tolos demais! Como podem não enxergar a linda roupa de nosso tão magnífico Rei?”
T: “Talvez porque o Rei não esteja vestindo coisa alguma…”
G: “Mas, ele disse que estava!”
P: “Os institutos de pesquisa mais importantes do reino já publicaram por diversas vezes números e números comprovando a popularidade e a aprovação ao governo de nosso Rei!”
F: “Lembro-me que este mesmo Rei também disse que a festa seria para todos nós…”
S: “Claro… O ‘nós’ que é ‘eles’. Estamos no Reino de Todos.”
P: “Sim. É o Reino de Todos. Todos mandam em nóis.”
C: “É nóis!”
Há de se pensar e de se pedir quem lê: “Vês e sabes, já que é verdade sua parte, que o Rei está pelado, T… Faça alguma coisa!”?
_ Texto inspirado na Obra de Hans Christian Andersen (Odense, 2 de Abril de 1805 — Copenhague, 4 de Agosto de 1875) –, A Nova Roupa do Rei

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A FÉ QUE PROFESSO

Eis aí uma bela profissão de Fé...profunda, sincera e cheia de esperança!
Jovens somos todos nós, basta ter FÉ!
 A FÉ QUE PROFESSO
Pe. Wandinho - Arquidiocese de Mariana - MG

Creio em Deus Pai, Criador do céu e da terra!
Mas também creio no poder criador juvenil, extensão das mãos divinas, que continua a plasmar o céu e a terra com cores, sons, cheiros e sabores. Creio nessa gente que quando diz “Faça-se”, realmente a coisa é feita. E vê que aquilo que é criado é bom. E o que não é bom é “muito bom”!

Creio em Jesus Cristo, Filho único do Pai, concebido pelo Espírito Santo, nascido da Virgem Maria, morto e sepultado, acima de tudo, Ressuscitado!
Mas também creio no jovem que nasce de tantas mulheres lutadoras, sofredoras, generosas e amorosas. Creio nos jovens nascidos nas Beléms da vida, sem chão, sem teto, sem acolhida. Creio nos jovens que pobremente vivem e alegremente resistem, com dor e amor, à mão pesada dos Herodes atuais, prontos a exterminar qualquer um que ouse rir e dançar livremente. Creio que há jovens condenados e mortos injustamente, tirados prematuramente de uma vida que deveria a pena valer ser vivida. Professo também minha fé na páscoa juvenil, vivida por tantos e tantas. Creio que o sangue derramado dos mártires juvenis fertiliza a terra e faz brotar a esperança. E sei que aqueles e aquelas que resistem à grande Tribulação, serão marcados para sempre com o selo da Paz do Cordeiro!

Creio no Espírito Santo!
Se não acreditasse Nele não lutaria, não tentaria mudar o mundo, não poderia sequer acreditar em algo. Sei que esse espírito faz com que aquilo que parece velho se torne novo, que o que é meramente humano seja também divino. Sem esse Espírito nada permaneceria vivo! E como não acreditar no Pentecostes Juvenil? Festival de culturas, modos de viver e de ser! Creio nas juventudes inspiradas, que atualizam a força renovadora e transformadora do Espírito Santo na Igreja e no mundo. Creio que os jovens são “fogo que arde sem se ver”. Que seus questionamentos, provocações, críticas e manifestações são sinais dos tempos. E creio também que a ação juvenil renova a face do mundo e da igreja!

Creio na Santa Igreja Católica!
E creio também nos santos grupos de jovens. Sim, santos porque são lugares de vida e felicidade. E para mim, ser santo é ser feliz. E como ninguém será feliz sozinho, é no grupo, comunitariamente, que o jovem encontrará sua felicidade. Creio nas pequenas comunidades, eclesiais, de base, convocadas a serem sinal e fermento do Reino que há de vir, e que misteriosamente, já está entre nós. E creio, catolicamente, que esse Reino pode estar em todo e qualquer lugar, nas diversas culturas, povos e nações. Professo ainda que creio mais em gente e igreja que se faz povo do que massa. E sei, pela fé, que as juventudes do mundo buscam um novo jeito de ser igreja na mesa da eucaristia e da irmandade.

Creio na comunhão dos Santos
Sim, creio nessa comunhão dos Santos. E que essa comunhão é possível quando se ama. E esse amor é mais forte do que a morte. E a morte não pode separar quem ama e é amado. Assim, quem vive na glória de Deus é ânimo e força para quem está na luta. Por isso creio também na força do amor que une os jovens, que os fazem cuidar uns dos outros, solidariamente. E que, independentemente de onde estejam, comungam dos mesmos sonhos, sofrem das mesmas dores. É por isso que acredito que jovens entendem jovens e podem evangelizar uns aos outros. E que os jovens que vivem do lado de lá, ajudam aqueles que vivem do lado de cá!

Acredito na remissão dos pecados
Não tenho dúvidas de que o Cordeiro de Deus tira o pecado do mundo. Creio também que Deus não é um ser que condena, perversamente, o ser humano a viver com pesos e fardos nos ombros ao longo da vida. Sei que Deus permite a todas as pessoas recomeçar, sempre que tiverem o desejo. Ele faz novas todas as coisas! Mas eu creio firmemente, que os jovens, mesmo que não saibam, são portadores do perdão. Que eles são artífices da paz e da reconciliação. E que podem protagonizar um mundo novo, diferente, sem oprimidos e opressores, um mundo de irmãos e irmãs.

Na ressurreição da carne
Sim, na ressurreição da carne eu creio! Ou seja, aquilo que é frágil, fraco, sem poder, sem força, pobre Deus pode fazer maravilhas. Creio sim na ressurreição dos pequenos, excluídos, mal amados, rejeitados ou esquecidos. Creio que Deus em seu amor, não há de deixar ninguém para trás, sem participar da festa que no céu nunca se acaba. Creio também na ressurreição dos jovens esmagados, fragilizados. Sei que na força de Deus esses jovens que parecem mortos, como Lázaro, voltam a viver e se tornam testemunhas dos Ressuscitado. Creio que muitos jovens e seus grupos, mortos prematuramente, renascem por aí, como sementes boas que germinam para dar frutos e flores no jardim do mundo.

E, finalmente, creio com todo meu ser, na Vida Eterna!
Creio na vida eterna não como aquela vida que começa depois da morte biológica. Creio na vida eterna que começa quando encontro, no meio desse mundo e das pessoas, Jesus Cristo, caminho, verdade e vida. Claro que essa vida só se torna plena no encontro completo com Ele. Creio que um dia serei abraço por Ele e poderei dizer quanto o amo e quanto por Ele me sinto amado. Eu creio também que essa vida eterna vai sendo construída por aqui, e que os jovens quando sonham com a Civilização do Amor, também sonham com essa vida onde “ninguém mais vai chorar, ninguém mais vai sofrer, ninguém mais vai ficar triste”. Creio que quando fixamos nossos olhos em olhos juvenis, contemplamos lampejos de eternidade que um dia não passará, pois será Hoje para sempre! Creio finalmente, que podem nos tirar tudo, menos a fé e a esperança! 
Amém, axé, awere, aleluia!