quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

O Palhaço





Preste atenção nesta estória que vou lhe contar
Essa estória que eu conto é pra fazer pensar
No altar da igreja, um certo dia, chegou o Sacristão
Com a vassoura, a pé e o pano, pra limpar o chão.
E lá chegando encontrou o Palhaço a brincar
Equilibrando uma bola com o seu calcanhar

E entre risos o Palhaço escorregou no chão
E terminando a cambalhota viu o Sacristão
Mas que vergonha, o que é isso! - disse o Sacristão

Onde se viu fazer bagunça aqui! - lhe disse então

Mas o Palhaço sorriu, e disse a cantar
Eu sou Palhaço e brincando é que eu sei rezar

Como você
O que tenho pra oferecer
Igual a você
O melhor para oferecer
Pra Deus!

Essa palavra, então, por fim calou o Sacristão
Ele lembrou que o melhor se dá de coração
E o Palhaço alegremente assim se despediu
Com uma pirueta louca e um pulo ele partiu

Mais o que nem Sacristão e nem Palhaço viu
É que a imagem do menino Jesus sorriu.
      
                                                             Grecco




terça-feira, 27 de dezembro de 2016

A chuva veio e me disse!


SEGUE O SECO INHOTIM



As oportunidades da vida?!...sempre as tenho, sempre as temos!
São muitas as oportunidades. Na maioria das vezes, elas são simples, pequeninas mesmo. A gente não costuma enxerga-las, até porque estamos sempre esperando pelo grandioso, pelo arrebatador, pelo mais brilhante ou brilhoso.
Penso que o que nos constrói ao longo da história está no que normalmente pouco observamos.  Às vezes é meio sem graça mesmo ou até desengonçado. Eu, particularmente, acho o desengonçado sempre mais interessante, mais atrativo e cheio de charme.
Nem sempre foi assim, nem sempre é assim comigo, ainda me pego esperando pelo grandioso, pelo estrondoso como se a vida fosse um show do milhão.
Ledo engano o meu! Quando olho pra trás, só consigo me lembrar com maior precisão daquilo que foi mais rasteiro, com horas e dias entranhados no chão da minha história, como uma colcha tecida fio a fio, hora a hora, dia a dia.
Quando penso nas oportunidades já vividas, é verdade, algumas delas foram sim estrondosas do meu ponto de vista, mas, engraçado, nestas grandes e excelentes oportunidades, ao me recordar, só lembro mesmo dos pequenos detalhes. Depois que passa, a memória guarda o mais simbólico, isto é, ela guarda o detalhe mais importante, aquele que sempre fará toda a diferença e, por isso mesmo, fica guardado no nosso grande pote craniano.
Para que percebamos melhor todas as oportunidades, é urgente mudar a forma como se vive todo e cada momento. Aprender a valorizar cada coisa, cada pessoa ou situação, seja ela de alegria ou de dor.
Por estes dias fiquei lembrando uma oportunidade que me deram, pude prestigiar um belíssimo show em Belo Horizonte - MG; a cantora era a Marisa Monte, uma exímia artista. Ela não busca holofotes, apenas traz o melhor que sabe fazer: cantar, tocar, compor. Nos encantou com suas músicas. Toda performance do show se deu mesmo por conta da harmonia instrumental muito bem elaborada e orquestrada, complementada com o conteúdo de suas músicas, que chegam diretamente ao coração, dando nomes a vários dos sentimentos que trazemos. Algo como disse Milton Nascimento: "certas canções que ouço, cabem tão dentro de mim. Que perguntar carece, como não fui eu que fiz."
O ponto alto deste show foi sem dúvida nenhuma a chuva que caiu. Parece que ela veio para compor
ainda mais toda a harmonia musical do momento. Não espantou ninguém a chuva e nem deixou nada a desejar, pelo contrário, além de lavar a alma, nos fez parecer crianças novamente, encantados e desnudados pela beleza dos pingos grossos (não havia como se esconder), nos fazendo dançar e cantar como faziam os nossos pais indígenas. Me pareceu que não precisávamos de mais nada, nos bastava ser quem somos e viver este encontro com a natureza na sua forma mais primitiva, era a dança da chuva. Afinal de contas, havíamos nos queixado da seca. A música da Marisa fazia uma ode a chuva, portanto, o pedido foi atendido! 
Fazer memória deste momento me traz à boca o gosto da vida, da sensação de liberdade que senti ali totalmente molhada pela chuva e embalada pelo som da Marisa. Estávamos assim, tão longe de casa, mas ao mesmo tempo, tão em casa. O tempo era o ali, naquela hora, não existia outro, outras pessoas, outro lugar... existíamos nós, a chuva, a música e a vida crescendo naquele momento.
Isso mesmo, quando estamos sinceramente presentes em qualquer oportunidade pela qual estamos vivendo, a vida dentro da gente cresce e, se novos momentos tivermos, saibamos que foram todos estes pelos quais passamos que nos fazem responder com mais vigor a qualquer outro momento, repito, seja de dor ou alegria. É como um bordado que vai levando a outro, e outro, e outro, até que um dia, o desenho toma uma forma e aí podemos ler, em cada linha bordada, o livro da nossa singular história. 
Um show também pode trazer muitas cores para uma vida que talvez esteja sendo vivida em tom mais fúnebre. Do mesmo modo, um banho de chuva também pode regar terrenos mais ressequidos pelo deserto pelo qual a maioria de nós vivemos. 
Volto a dizer, para tudo isto ter um sentido ou para qualquer coisa ter e fazer sentido, é preciso saber ver, ouvir e sentir... é preciso desejar viver, estar presente. Normalmente quem está presente nos momentos, até na maior das dispersões, consegue ver sentido nas oportunidades da vida, o ócio é pura criação.
Se aquele fosse o último show da minha vida, a última oportunidade - nunca saberemos quando será a última, mas ela chegará e será bom se não nos pegar desprevenidos -, eu poderia dizer que, naquele momento, a minha colcha ganhou um desenho perfeito, pois todos os meus sentidos estariam potencialmente direcionados e eu não precisaria de mais nada, bastaria ser quem eu era ali, naquela hora. Apenas sentindo a alegria de viver que aquela oportunidade trouxe. Bastaria encontrar-me assim, desnuda de subterfúgios, encontrar-me com a terra de que sou feita, mistura de vida humana e vida divina, natureza e divindade. Enfim, liberdade!
Seguindo o seco de Marisa, encontrei a água, como se estivesse atravessando o deserto e percebi que a minha vida só se faz no hoje! A liberdade é estar presente no seu momento, nem tanto como uma filosofia que fica tentando se alcançar... é vivendo mesmo que se faz a vida! 
Este momento é exatamente o que você está presenciando agora.

Correção: Maria Marta Garcia - Tradução em Ponto


Perfeito adendo:



domingo, 25 de dezembro de 2016

'Por favor, parem os bombardeios!' Bana Alabed

Antes de iniciar o meu post, já faço referência a Bana Alabed, menina de 7 anos que tuitava os horrores da guerra na Síria.
Ela disse: 'Somos crianças, temos o direito a viver.'

Ontem e hoje, passei o dia pensando na Síria. Temos visto a expressão do terror diariamente no noticiário. Fica difícil celebrar em paz o natal quando se tem um mundo em guerra.

Este ano foi muito difícil, cheio de dissabores; o tempo todo estivemos tensos pelos mandos e desmandos em todo o mundo. No Brasil então, percebo a sociedade perdida, desanimada de lutar e acreditar que pode vencer a corrupção e fazer valer os seus direitos (direitos estes que estão escorrendo pelas nossas mãos por causa de um governo golpista #foratemer).
Mas especialmente hoje, 25/12, neste dia simbólico, celebramos como cristãos a luz do Cristo que se encarnou para viver no meio de nós, isto é, celebramos o Natal. Não tenho como deixar de lado ou não me lembrar dos gritos desesperados na Síria... São uníssonas as vozes  pedindo socorro! Ao longo do ano, foram muitos os rostos que ficaram gravados em minha mente, principalmente os infantis.
Celebrar o menino Deus é saber-se chamado a uma vida de responsabilidade, a uma vida em que todos podemos e devemos nos sentir irmãos - Cristo é para todos e por todos. Sentir também que a nossa vida,por si, deve servir para acolher e amar, deixando de lado a intolerância que mata, humilha e traumatiza a vida humana.
Celebrar o Cristo é celebrar a luz mais fulgurante, luz que ilumina muito mais dentro do que fora, que nos chama à razão, ao amor e que nos aquece, fazendo perceber o quanto podemos ser melhores.
Celebrar o Cristo é dizer não à ambição desenfreada, à violência gratuita e à intolerância religiosa.
Enfim, é celebrar a vida! É colocar-se neste mundo para somar, para ser também parte desta luz, iluminando os cantos e recantos por onde se está.
Celebro sim o Natal, não posso deixar de celebrar. Essa luz é única, porém, neste ano, celebro com o coração mais reflexivo, mais desejoso de que a mensagem do menino Deus chegue até os corações destes refugiados...Sim! Só o Cristo pode clarear e dar vida e vigor onde não se pode ver cor, onde o cinza é a cor mais forte. Só o Cristo, também, pode chamar a razão àqueles que deflagram o terror e a dor.
Faço silêncio profundo agora, antes de dormir, após cearmos com alegria e fé! Foi bom celebrar com a minha família, receber tantos recadinhos, mas, de verdade, pra mim será melhor, ou melhor ficarei se, ao acordar no dia 25, souber que a vida voltou a florir naquele lugar, que as crianças poderão ser crianças e as famílias voltarão a se encontrar...Eis a Luz de Cristo! Demos graças a Deus!
Tenhamos esperança...Cristo, nossa Páscoa!
Feliz Natal!

Correção: Maria Marta Garcia - Tradução em Ponto











Me encanta - 09/12/2017

Hoje termino a celebração do meu aniversário grata!
O coração está desacelerado, cheio de uma ternura (por isso escolhi esta foto ao lado, obrigada meninas da educação infantil da APOV)... cheio de uma ternura que revela a beleza simples de viver.
Quando olho de verdade para elas, as crianças, me encanta viver e me encanta perder a pressa, mesmo que os anos passem rápido... do lado de dentro, o tempo é diferente!!!
Recebi muitos recadinhos tão bons, senti saudades, relembrei fatos, pessoas e lugares! Vi que a minha vida tem vigor e tudo isso se dá porque tenho escolhido misturar meu "barro" com tantos outro "barros" que encontro por aí! Gente nova, novinha, mas também gente mais velha, velhinha! Gente que faz da minha terra, um chão de terra fértil!
Agradeço a cada um, obrigada!
Mas não posso deixar de agradecer ao meu Pai do céu! Graças Pai! Pelos pequenos e belos detalhes, por cada coisa que me deste, por cada coisa que me negaste... mais que isso... graças Pai!
"O que é entristecível continuará, o que é risível, deleitoso, também. Continuará a vida, repetitiva. Novíssima continuará a vida. Só vida. Nua. Vida. " Adélia Prado
#viva a vida

Tradicional bolinho na casa de mamãe






 


quarta-feira, 12 de outubro de 2016

AMOR

Esta escultura se chama Amor.
Seu criador é o artista ucraniano Alexander Milov.
Percebe-se o conflito entre duas pessoas, e também expressão interior da natureza humana. 
Dois adultos se dão as costas, mas as crianças interiores procuram se aproximar.
Que nossas crianças interiores aproximem-se uma das outras e que o mundo tenha mais PAZ!

Feliz dia das crianças para todos nós!

Recebi a foto do Marcos Nunes - que coisa mais linda!

quarta-feira, 22 de junho de 2016

"A vida da gente vai em erros, como num relato sem pés nem cabeça, por falta de sisudez e alegria. Vida devia ser como sala de teatro, cada um inteiro fazendo com forte gosto seu papel, desempenho." Guimarães Rosa

Santiago de Compostela, no seu pouco tempo comigo ou, no meu pouco tempo contigo, muito aprendi... 
A intensidade das coisas?! 
Somos nós quem fazemos...


sábado, 18 de junho de 2016

Rios

"Os excessos são o motor da nossa vida..." Viviane Mosé


Rios, quando ainda são rios,
Conservam vegetação nas margens.
Córregos são águas geralmente claras
Que correm rasas entre as pedras.

Algumas vezes árvores chegam a cobrir um rio por inteiro:
Suas copas vão tecendo um véu verde sobre as águas
(em geral muito limpas) que correm.

As margens de um rio são plantas e terra molhada.
Terra e água em convivência pacífica.
Que não é lama, é terra e água,
Em sua diferença.

O leito se sabe leito daquele fluxo líquido inserido no chão.
Eu poderia chorar cosias assim:
Corre um rio de minha boca corre um rio de minhas mãos.
Dos meus olhos corre um rio.

Na verdade sofro de excessos, que dão certo vocabulário
Como derramar, escorrer, atravessar.
Tenho a impressão de que tudo vaza em sobras.
Tenho dificuldade em caber.

Pra caber mais derramo por nada derramo sem motivo.
Vou acalmar meu excesso pensei
Ministrando doses dia´rais de barcos ancorados ao sol,
Rodeados por pequenos pássaros em busca de restos de peixe.

Água se lançando sobre as pedras e um vento que parece vivo,
Como se tivesse a intenção de às vezes fazer agrados
Em minha pele.

Meu rosto tem muita simpatia por ventos,
Reconhece certos humores próprios a vento.
Gosto de coisas que se movem.

Por isso aprecio rios e não sou tanto assim apegada a mares.
E árvores.
Se bem que tenho enorme ternura por bois
Fincados no pasto como palavras no papel.

Palavras são estacas fincadas ao chão.
Pedras onde piso nessa imensa correnteza que atravesso.

Viviane Mosé




Hai-Kai de outono


"Uma borboleta amarela?

Ou uma folha seca.
Que se desprendeu e não quis posar?" 


Tarde boa de reflexão!
Outono de meu coração!!!
Frutos que ficaram, outros que se foram... vida e morte!
Tudo dorme e tudo acorda...a vida e suas belíssimas estações dentro de nós!

🌱🌻🌷🌼🌎🌞☈🌦⛅



terça-feira, 8 de março de 2016

“O caminho não percorrido” de Robert Frost.


Aproveitando esta belíssima cena para sempre relembrar as célebres palavras de Frost (1916):




"Dois caminhos divergiam num bosque amarelo
Triste por não poder seguir os dois
E por ser apenas um viajante, segui
Um deles o mais longe que pude com o olhar,
Até o ponto onde ele se perde no mato.

Tomei o outro que me pareceu mais belo,
Oferecendo talvez a vantagem,
De uma relva que se podia pisar
Embora o estado de ambos fosse o mesmo
E naquela manhã eles fossem iguais

Ambos estavam sob relvas que nenhum passo
Enegrecera. Oh deixei
Para outra vez o primeiro!
Mas como sabia que ao caminho se juntam
Os caminhos, duvidei que um dia voltasse.

Hei de contar isto suspirando,
Daqui a muito tempo, nalgum lugar,
Dois caminhos divergiam num bosque, e eu
Segui o menos trilhado,
E foi o que fez toda diferença."


O poema “O caminho não percorrido” (1916), do norte-americano Robert Frost.