domingo, 10 de julho de 2011

Um chuchu!


“Você já viu?" - primeira coisa que escutei ao entrar na casa, contemplando um sorriso bastante largo como de uma criança - "Veja como cresceu, olha lá da janela, ta bonito não é? Fui eu quem plantei, vamos lá para você ver como está linda a rama de chuchu...” e não se contentou em mostrar, dois minutos depois continua: “toma, leva este para você e plante.” E sai toda contente como quem tivesse dado um tesouro.

Isto aconteceu em Barbacena-MG numa casa terapêutica da Arquidiocese de Mariana, administrada pela Paróquia Bom Pastor, vale a pena conhecer esse trabalho, bonito!

São várias as casas, feminina e masculina, um lugar onde se encontram mulheres e homens reconstruindo a vida, reconstruindo o coração e aprendendo a receber amor e atenção após longos anos de sofrimentos em hospitais psiquiátricos, sem a menor condição de um tratamento digno e que desse possibilidades para um melhor desenvolvimento afetivo, psicológico, social. Estão aprendendo também a doar daquilo que é seu, dentro de suas capacidades. Tenho certeza que um ensopado desse chuchu, deve ser comparado ao prato mais caro e até mesmo gostoso que possamos experimentar.

Até me lembrei da passagem dos Atos dos Apóstolos sobre a cura do aleijado, quando Pedro afirma ao paralítico: “Olha para nós!” Ele os olhava atentamente, esperando receber deles alguma coisa. Mas Pedro lhes disse: “Nem ouro, nem prata possuo. O que tenho, porém, isto te dou...”Atos 3,4-5. No caso dela, poderíamos dizer: “Um chuchu!”

Parece exagero exaltar tanto um presente como este, mas essa cena me fez lembrar da conversa entre a raposa e o príncipe, ela afirmou que toda vez que visse um campo de trigo lembraria do seu amigo, pois o seu cabelo era da mesma cor. Toda vez que eu ver um chuchu vou me lembrar de quantas maneiras a beleza se aproxima de mim, pois só se pode ver bem, quem enxerga com o coração, já dizia a raposa - conversa profunda a desses dois.

O artista ama a pedra sem forma por causa da Pietá que mora adormecida dentro dela, assim também afirmou nosso famoso escritor Rubem Alves e ele continua: “o deserto é belo porque, em algum lugar, ele esconde um jardim. Somos belos porque dentro de nós há um jardim que, vez por outra, se deixa ver através de nossos gestos.”

Consegui ver um bonito jardim ao receber este chuchu e não há como esquecer a alegria daquela mulher simples, aparentemente sem expressões claras e objetivas como estamos acostumados, algo tocou e modificou o meu coração ao contemplá-la.

Nem ouro, nem prata eu tenho, mas o que tenho eu te dou... um chuchu!


Flaviane

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