sábado, 3 de setembro de 2011

Rabisco ou desenho?


Recentemente lembrei-me de uma explicação que dei às professoras da Educação Infantil lá na escola: falamos sobre o colorido e o rabisco... Expliquei a importância de sempre direcionarmos as crianças para que façam o colorido apenas em uma posição. Ou seja, se elas começarem a colorir com o lápis em pé, devem continuar até o fim na mesma posição. Do mesmo modo, se começarem a colorir com o lápis ou giz de cera deitado, devem conservar essa posição até o fim e as professoras precisam incentivar até que terminem o desenho.
 Isso significa que as crianças começam a organizar seu pensamento e seu espaço muito mais no seu interior que no exterior. Elas vão aprendendo que precisam organizar suas idéias, até mesmo para fazer um simples desenho. Os pensamentos mais abstratos partem desses pequenos aprendizados.
Conto isso para dizer que o mesmo acontece conosco em outro sentido: ou damos continuidade ao colorido de nossa vida, ou rabiscamos hora aqui, hora ali e, ao final, como disseram meus meninos: "tá bonito não, tá tudo rabiscado..." Profundo isso!
Não é raro observar que aqueles que têm certa dificuldade, sobretudo emocional, no momento em que fazem seu desenho costumam rabiscar por cima do mesmo, tampando todo o trabalho, não sobrando nada, a não ser um emaranhado de cores. Isso nos permite perceber o coraçãozinho da criança, se está sofrido ou sufocado.
Não duvidemos, há muitas crianças se perdendo num emaranhado de cores e rabiscos, além das que nem expressão colocam no papel, ou riscam traços leves que nem dá para identificar o que quiseram ou se quiseram mostrar alguma coisa. Tais situações precisam ser avaliadas com cuidado e zelo por todos nós adultos.
Agora pensemos: será que esta situação se restringe ao mundo dos pequenos? Será que a gente também não rabisca pela vida afora? Será que não estamos rabiscando quando trabalhamos, quando cuidamos dos nossos afazeres ou das pessoas queridas que convivem conosco? Temos desenhado ou rabiscado?
Não conheço as respostas, estou a caminho, mas é necessário que, hoje e todos os dias em que estivermos pintando por essa terra, sejamos capazes de, como adultos já mais organizados interiormente, escolher melhor as cores, o movimento que fazemos e, principalmente, dar continuidade ao que começamos. Nossa vida precisa ser contínua porque não fomos feito de rabiscos. Ao contrário, Deus é preciso em sua criação! O texto de Gênesis 1 descreve o ato criador, simbologia bonita que traduz quão magnífico artista é o grande Autor. Também está escrito no Salmo 138,13b: "vós me tecestes no seio de minha mãe". Gênesis 2,7 diz ainda que fomos formados do barro da terra e Deus inspirou-nos nas narinas um sopro de vida. Lembrei-me que fazemos muitos objetos com as crianças a partir da argila.
O desafio está lançado, sempre é hora de desenhar. Se a gente só escreve, a vida fica muito séria e formal. As cores estão aí: são os bons sentimentos que carregamos, nossos dons, nossas mãos e pés para colorir esse mundo de meu Deus. O barro de que fomos feito é do mais puro. Unidos ao Criador, somos co-criadores, ou seja, criamos por causa dele. Isso nos impulsiona a fazer arte. Sejamos artistas, mas o nosso palco é a vida concreta. Na TV tudo acaba rápido. Na vida a gente deixa marcas por onde passa, marcas do eterno!


 



Flaviane Ferreira

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